Vejam,
que ele cai desamparado,
batendo no solo com um som seco.
Seco e esquecido,
tal e qual a sua existência,
triste, roto e maltratado.
Ecoam gritos de admiração,
de desespero e total incapacidade,
olhando a inevitável catástrofe que daí advém.
Olhos aflitos de lágrimas vacilam,
entre o olhar e o desviar,
que no entanto choram.
Choram porque sentem,
talvez de pena, ou então de raiva,
quem sabe de revolta.
Das escoantes lágrimas,
pode-se ler a vontade de ajudar,
contudo ele vai caindo.
Cai que cai,
sozinho e triste na certeira queda,
o amanhã cessa.
Os projectos futuros,
aqueles que antes tinha imaginado,
vão desvanecendo numa névoa profunda.
Ele cai,
e nós em terra firme vamos olhando,
sem nada fazer.
Atitude doentia,
inerte de movimentos e pensamentos,
confortáveis no nosso olhar distante.
Assim o vemos,
em queda contínua e incerta,
preocupados com os danos futuros.
Assim ele cai,
não uma provável figura humana,
mas a terra que amo.
Essa que vai caindo,
às mãos daqueles que a empurraram,
esses que não a amam.
Que a trucidam,
num frenesim selvagem,
na busca incessante da fortuna fácil.
E nós,
bem nós,
vamos assistindo à queda…inertes…atados.
" A Queda"
Marco Deus
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